Na última terça-feira, dia 07 de novembro, foi a vez dos Estados Unidos definirem os rumos políticos da nação por meio das urnas. Ao contrário daqui, entretanto, os cidadãos dos EUA escolheram o presidente da república que ficará no cargo pelos próximos quatro anos.
Como é de praxe, o atual Chefe de Estado, Barack Obama, que ainda está em seu primeiro mandato, foi o concorrente do partido Democrata, o grupo político moderado de lá, e teve como principal adversário Mitt Romney, representante dos conservadores Republicanos.
Após uma campanha difícil, que se manteve empatada até o último momento, Obama conseguiu se reeleger, no complicado sistema eleitoral norte americano, que funciona por meio do voto indireto, ou seja, apesar de ter sua importância, o voto popular apenas indica uma tendência de um possível vencedor, mas quem escolhe o mandatário do país são delegados eleitorais, representantes de cada uma das 51 unidades federativas (estados) que compõem os Estados Unidos da América.
Agora que conseguiu legitimidade para mais uma temporada na Casa Branca, Obama mudará sua postura?
Dificilmente. Analistas são unânimes ao indicarem que pouca coisa, ou quase nada, em relação a economia e política externa, mudará no segundo mandato do primeiro presidente negro da história dos EUA. Na mesma linha, eles também concordam que, em relação a Mitt Romney, o vencedor de 2012 é uma alternativa bem mais próxima as realidades do mundo, no que diz respeito ao enfrentamento da crise no próprio país e na Europa, além da posição moderada nos conflitos com o Oriente Médio, sobretudo, no que diz respeito ao Irã e seu programa nuclear.
É verdade que aquela aura que revestia o presidente eleito, em 2008, como a solução dos problemas, o autêntico ‘salvador da pátria’, está enfraquecida, após quatro anos de duras batalhas políticas dentro da própria casa, contra o aliança de extrema direita (fascista?) Tea Party, principalmente para a aprovação do plano de saúde aos norte americanos, que só foi conquistada na Suprema Corte, o STF de lá. O homem que levou mais de duzentas mil pessoas, num discurso histórico, feito na Alemanha, pouco antes das eleições que o levariam ao primeiro mandato, aparenta estar mais cansado – com a imagem desgastada – também porque não cumpriu boa parte de suas propostas, como o fechamento de Guantánamo, a prisão denunciada pela ONU por práticas jurídicas ilegais e o completo descompromisso com os direitos humanos, ou o avanço do processo de paz entre palestinos e israelenses.
No tocante a América latina, muitos dos líderes também veem com certa indiferença – aparente – a vitória de Obama, uma região relegada em segundo plano pela agenda política da superpotência. Nem mesmo o embargo contra Cuba, de mais de meio século, referente a uma crise ainda do início da Guerra Fria, conseguiu ser suspenso, por falta de apoio político dos Democratas.
Nesse sentido, talvez resida aí um dos erros de Obama: subestimar a opinião e a força política dos cidadãos norte americanos, uma sociedade que, em maior ou menor grau, é essencialmente conservadora, e que históricamente não liga muito para agendas progressistas, por desconhecimento, medo ou preconceito, taxando toda iniciativa de melhorar as condições de vida dos mais pobres como ‘prática comunista’. O chefe dos EUA pode até não ter esse discurso, mas o partido do político que quase o tirou da Casa Branca tem, com pérolas atribuidas a um dos candidatos republicanos, que ao criticar o aborto, proferiu:’se o estupro é legítimo, o corpo da mulher tenta bloquear a gravidez’… Estupro legítimo?
De qualquer maneira, fazendo coro com o restante dos observadores políticos, a reeleição de Barack Obama, apesar de tudo, é bem vinda. Pelo menos nos próximo quatro anos, teremos uma liderança que, teoricamente, manterá posições razoáveis, não no sentido que gostaríamos, mas que a sociedade anglo-saxônica permitirá.