Num artigo publicado na semana passada, em alguns veículos de comunicação, o ex Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, fez duras críticas a gestão de seu sucessor, Luis Inácio Lula da Silva, e alerta que a gestão do petista deixou graves problemas para a sociedade brasileira, como uma crise moral e outra econômica. Parece que FHC não levou em conta que seus anos de governo não estão tão distantes assim para serem esquecidos.
Quem viveu os anos 1990 sabe como foi o governo do tucano. Na época, a partir do primeiro ano de mandato de Cardoso, o país vivia uma situação semelhante as nações europeias hoje, endividada até o pescoço e, por falta de coragem, tendo que recorrer a métodos onde a população sofre os maiores danos, como o corte de recursos para áreas essenciais, como educação, saúde e emprego.
Sob a chicote do FMI, que dizia onde e quanto podíamos gastar, passamos por crise atrás de crise, como a dos tigres asiáticos, em 1997 e a desvalorização do real, em 1999. Normal, pois crises financeiras existem até hoje. O que as diferencia, no entanto, é a forma como o Brasil se portou diante delas. Na última década do século XX, milhões de empregos foram perdidos, o crescimento estava estagnado e o investimento na área social e infraestrutura era praticamente inexistente, com o sucateamento e a privatização (leia venda de bens públicos a preço de banana) que estava em alta por aqui.
Mas tudo isso apenas até o início da década seguinte. Em 2001, apagões de energia elétrica ameaçavam a vida com mínimo de dignidade de todos os brasileiros, que, por falta de planejamento, possuia uma demanda por eletricidade maior que a oferta. Tudo conspirava para um colapso da sociedade brasileira, que sob intervenção do capital estrangeiro, deixava de olhar para a população.
A resposta a esses problemas deu-se por meio das urnas. A democracia, que é a soberania do povo, achou melhor optar por um outro modelo de governo.
Com um país em frangalhos, moral e econômicamente, Lula tratou logo de fazer alianças para, a partir de 2003, transformar em realidade os anseios da população, ávida por um lampejo de esperança que desse o mínimo de dignidade ao contribuinte. E o ex líder sindical o fez, ao promover o maior programa de investimentos sociais de nossa história. Tirou a nação do buraco, investiu em infraestrutura com o programa de aceleração do crescimento, fez o Brasil deixar de ser um capacho das nações de primeiro mundo e elegeu sua sucessora, para continuar o trabalho.
O que pretende FHC ao dizer que Lula deixa uma herança maldita? Será que ele se esquece que as pessoas que defende são a minoria política e econômica?
É complicado até mesmo divagar, quando se leva em consideração o preconceito que Fernando Henrique carrega da população, como da vez que disse que aposentado era ‘vagabundo’, ou quando afirmou que no Brasil só tinha ‘caipira’. Mas a favorita do seu séquito de zumbis políticos deve ser a frase que, num momento de inspiração ímpar do sociólogo, o fez lançar a pérola de que seu partido deveria esquecer os pobres. Se levarmos em conta que ainda somos um país de terceiro mundo, o cara é um gênio!
FHC é um tipo de agente público que, apesar de ainda está por aí, fatalmente desaparecerá. Francamente, depois de um governo que passou oito anos investindo na área social, alguém ainda duvida que este é o caminho para o Brasil se tornar um país de primeiro mundo? Como acreditar na teoria de que a concentração de riquezas é mais benéfica para o estado de Bem Estar social, concentração essa defendida até pelo topete esnobe do ex presidente?
Lula pode até ter deixado uma herança maldita, mas apenas para aqueles que acreditavam que a riqueza da nação continuaria a beneficiar apenas seu exclusivo círculo social, e não a todos, indiscriminadamente. Mas é compreenssível que FHC tenha essa posição. O que resta praguejar, tendo o FMI como contador do inventário de sua herança?