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O ativismo de Yoaní Sanchez

Autor: Diego Frederici 22 de setembro de 2012 0 Comentário

Como todos sabemos, e este sempre deve ser o ponto de partida quando se discute uma reportagem ou matéria, o jornalismo imparcial é um mito. Toda produção jornalística carrega em si um posicionamento político e/ou ideológico, seja ele qual for.

Nesse sentido, é compreenssível que a grande imprensa destaque uma blogueira cubana cubana que possui semelhanças com este tipo de negócio no Brasil: uma opositora da distribuição de renda e do desenvolvimento cultural, social e uniforme da sociedade. Assim como também se justifica a posição dos meios de comunicação progressistas, neste caso, que veem uma suposta fraude desta história.

Só para ressaltar, não faço juízo de valor sobre qual das duas é a certa ou errada, mesmo por que a questão não se resume a esta pergunta e é bem mais complexa do que parece. No fundo, tudo depende da origem dos leitores, e seu poder econômico. Assim, num país de terceiro mundo, que engatinha do ponto de vista democrático, social e dos direitos humanos, pode-se ter uma ideia do tipo de mídia que a sociedade mais necessita. Voltando a blogueira, entretanto, em minha modesta opinião, mesmo que Yoani Sánchez tenha fraudado ou não sua audiência, acho curioso a imprensa destacar seu ativismo, ao passo que, no mesmo texto, refere-se à Cuba como uma ‘ditadura’.

Puxando pela memória, nas últimas décadas, não consigo me lembrar de uma ‘ditadura’ que aceite
pacificamente ter uma oposição com tanto destaque internacional, sem já terem ‘sumido’ com ela – incluindo o Brasil. O fato é que as oligarquias políticas, financeiras e midiáticas não podem aceitar tranquilamente que o poder, a riqueza e a dignidade humana escapem do seu pequeno e exclusivo círculo social e vá parar nas mãos do povo. Cuba é um país perfeito? Com certeza não. Mas suas virtudes fazem seus problemas parecerem devaneios de um correligionário conservador.

O país tem um índice de alfabetização próximo a 100% e é um sucesso na área da saúde, direitos humanos e etc. A Ilha só não é chamada de país de primeiro mundo por este ser um conceito do neoliberalismo. Mas alguns de seus índices sociais superam até mesmo os de países desenvolvidos. Ditadura? Mesmo com um único partido, Cuba tem eleições a cada dois e cinco anos, lembrando sempre, ser esta a vontade do povo. Supressão de liberdades individuais? Sem hipocrisia, mas se o objetivo final é oferecer, a todos os cubanos, moradias, escolas e hospitais de primeira linha, alguns sacrifícios são necessários.

Lazer, saúde, educação e trabalho. Não consigo pensar num ideal melhor de liberdade individual do que gozar em sua plenitude dessas características numa sociedade. Além disso, será que nós, brasileiros, somos os mais indicados a discutir liberdades individuais?

Penso que a crítica feita pela blogueira é perfeitamente compreenssível pois a primeira atitude daqueles que não compreendem uma ideia é refutá-la. E uma sociedade construida pelo povo, e para o bem do povo, é marginal para aqueles que nascem e crescem sob uma perspectiva neoliberal, de concentração de riquezas, e negação a dignidade humana e qualidade de vida. A ideia do poder nas mãos de muitos – nas mãos das pessoas – é ignorante na democracia capitalista.


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