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Malditas galinhas peladas

Autor: Murilo Dias 26 de agosto de 2012 0 Comentário

The Chicken Little: Esse era o nome de meu restaurante. Galinhas assadas, fritas, com ou sem molho. Lá era o lugar. Se você queria comer galinhas, o Chicken Little era o lugar certo.

Eu era o dono e mestre-cuca do restaurante. Rico, famoso, mas incompleto. Não havia encontrado o amor da minha vida. Passava meu tempo com galinhas e esquecia as mulheres de verdade.

Porém, após uma longa conversa com a galinha que iria cozinhar, vi entrando com toda serenidade e beleza, uma das mulheres mais lindas que já havia visto. Abaixei o fogo do molho de mel com anchovas para recepcionar minha nova freguesa.

Com meu jeito estabanado de ser, sai da cozinha levando alguns pratos e talheres. Um barulho que fez todo parar para ver o que estava acontecendo. Até mesmo uma criança irritante na mesa 3 parou de jogar comida no teto para ver o que havia ocorrido.

Cheguei à mesa da bela dama, me apresentei e logo anotei seu pedido. Galinha ao molho pardo. Após algumas indiretas só me restava fazer seu prato. Pensei comigo mesmo “nunca uma galinha foi tão útil em minha vida”.

Fui ao frigorífico especial de meu restaurante, apelidado carinhosamente de Cantinho Cocoricó, mas voltei sem a bicha nas mãos. Não havia nenhuma galinha lá. Entrei em pânico. Mas logo chamei o motoboy da casa e pedi para ele ir até a granja localizada a alguns quilômetros do meu restaurante.

Voltou rapidamente e chegou falando: Chefe, eu tenho uma surpresa. Uma não. Duas. Acreditando que eram aves gordas e cheias de carne, quase cai duro quando vi duas galinhas peladas na minha frente. Olhei furioso para meu motoboy e ele disse que eram as únicas que haviam sobrado, e estava em duvida sobre qual trazer. Por isso havia pegado as duas.

Escolhi a maior para impressionar minha cliente. Deixei a outra num canto da cozinha.

Coloquei a maldita em cima de uma tabua e pensei: Mato e cozinho. Só que havia um problema… Nunca havia matado nenhum bicho. Nenhuma formiguinha sequer. E tinha que matar aquela ave. Todas as outras galinhas do restaurante já chegavam abatidas. Tinha pena de mata-las mas não de cozinha-las. O que não fazia muito sentido já que para servir os meus pratos, elas precisavam morrer.

Pois bem, quando a galinha viu que sua vida estava prestes a acabar, começou a me bicar e cacarejar feito uma maluca. Em algum tipo de código, ela pediu ajuda a sua outra amiga que estava no canto da cozinha e ambas começaram a me atacar. Era uma verdadeira revolução. Duas contra um. Não havia o que fazer… A não ser soltar a franga.

Literalmente soltei a franga. No caso, as frangas.

Duas galinhas peladas correndo por um restaurante e sendo perseguidas por um maníaco com um machado na mão, no caso, eu. Cena de filme, pena que era vida real. Uma lástima. Lástima maior quando dei de cara com a porta.

Vidro infeliz. Pessoa infeliz que inventou o vidro invisível.

O saldo final da noite não foi bom. Machuquei a minha cabeça no vidro e tive que fechar o restaurante na hora e fui para um beber no boteco do lado. A notícia boa: peguei as duas galinhas.


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