Julian Assange, criador do site Wikileaks, tem provocado polêmica no mundo. O australiano de 41 anos divide opiniões a cerca de sua atuação, em favor da liberdade da imprensa, ao divulgar o conteúdo de telegramas confidenciais, que retratam os bastidores da diplomacia realizada pelos países.
Nessa empreitada, o ativista digital não está só. Além de sua equipe, composta por programadores de computador, jornalistas e etc, ele também, ao que parece, contou com apoio de dentro do exército dos Estados Unidos. Bradley Manning, soldado norte americano, é acusado pelo governo dos EUA de repassar ao Wikileaks centenas de milhares de documentos secretos. O militar está preso na base de Quantico, no estado da Virginia, e existem indícios de tortura e ilegalidade na detenção.
Desde que começou seu cyberativismo, Assange tem sofrido retaliações até de gigantes do capitalismo, como as operadoras de cartões de crédito Visa e Mastercard, que suspenderam o repasse de doações feitas por clientes ao projeto de divulgação da comunicação sigilosa entre as nações.
O caso, entretanto, ganhou um novo capítulo recentemente. Acusado de estupro por duas mulheres suecas (Julian também é cidadão da Suécia), o australiano teve sua deportação decretada ao país nórdico pela Grã Bretanha, pois morava na terra da rainha, na época da acusação. Temendo ser extraditado para os Estados Unidos, onde acredita estar ocorrendo um júri secreto, para condená-lo a prisão perpétua ou a morte, ele fez um movimento ousado: se dirigiu a embaixada do Equador, em Londres, e solicitou asilo político.
Após quase dois meses de espera, o ativista conseguiu o que queria, ao receber do presidente, Rafael Correa, autorização para estabelecer residência no país sul americano. Mas a questão está longe de terminar. Londres já afirmou que não dará o salvo conduto para que ele viaje, ou seja, se sair da embaixada, será preso.
Mas por que Julian Assange incomoda tantas pessoas?
Embora óbvia, a resposta remete a uma realidade um tanto complexa, e envolve, sobretudo, os bastidores da política. Um dos telegramas vazados revela, por exemplo, que o governo norte americano toma ações concretas para impedir e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas: nuclear e espacial. Outro documento dá a entender que o ‘Tio Sam’ sabia da movimentação política em favor do golpe que derrubou o ex presidente paraguaio, Fernando Lugo, e por aí vai…
É impossível não perceber a ironia do caso quando, o país que, para todos os efeitos, coloca a ‘Liberdade’ como principal bandeira, põe a faca entre os dentes, e faz uma perseguição política, digna dos estúdios de Hollywood, ao idealizador e demais colaboradores de um trabalho jornalístico. Talvez o maior deles.
Mais surreal ainda é notar que o presidente da nação, acusado pelas famílias que controlam a mídia de perseguir a imprensa, no Equador, Rafael Correa, compra a briga e concede asilo político ao editor do Wikileaks.
Julian Assange tem muito a se preocupar, pois, se for extraditado aos EUA, pode parar na prisão de Guantánamo, famosa por suas violações aos direitos humanos e a própria legalidade dos processos. O ponto que os ianques erram, contudo, é que a internet não tem cara, nem voz. Outros Assanges surgirão e definitivamente não há espaço em cadeias desumanas para tanta gente.
Muitos dizem que o criador do polêmico site está num beco sem saída. Por outro lado, os norte americanos também possuem poucas cartas na manga. Jogar toda a ira do compartilhamento e diversidade de opiniões da rede para um único homem é apenas uma solução paliativa. O que farão os Falcões do norte?