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A CPMI do Cachoeira e suas ligações com a imprensa

Autor: Diego Frederici 27 de agosto de 2012 0 Comentário

O ano vem sendo quente para a política nacional. Além dos acalarados debates entre os grupos de poder – como os empresários, a imprensa, os movimentos sociais e os políticos profissionais que representam essas ideias – em 2012 teremos eleições municipais, o julgamento do STF do chamada ‘Mensalão’ e a CPMI do Cachoeira… Haja nervos de aço!

Comuns numa democracia que ainda está por consolidar-se, como a nossa, a queda de braço pelo prestígio da opinião pública atinge setores que, a primeira vista, podem parecer alheios ou pouco interessados pela disputa desses grupos para algumas pessoas. Mas não se engane: o que definitivamente não existe na política são jogadores ingênuos ou despreparados para a guerra de bastidores patrocinadas por eles e suas barganhas econômicas, jurídicas, midiáticas e etc.

Num caso específico, a da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investiga a atuação de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pode-se dizer que as implicações políticas e legais extrapolam esses campos e atingem um setor que  se unge como pautado exclusivamente pelo interesse público, com uma pretensa aura de imparcialidade, inverídica, como qualquer estudante de jornalismo bem sabe.

A imprensa, ou melhor, a grande imprensa (aquela que possui os maiores jornais impressos, ou as maiores revistas e ainda os grande telejornais da tv brasileira) merece um capítulo a parte nessa questão, como em muitas outras, na história recente do Brasil.

Carlinhos Cachoeira é investigado por chefiar um esquema de caça-níqueis – comuns em muitos bares pelo Brasil afora – e o jogo do bicho que, apesar de culturalmente fazer parte do cotidiano de muitos jogadores e donos de estabelecimentos comerciais que promovem a disputa, tanto este quanto a famosa ‘maquininha’,  são proibidos no país.

No decorrer das investigações, promovidas pela polícia federal nas operações Vegas e Monte Carlo, soube-se do envolvimento de peixes graúdos do Congresso Nacional, caso do ex senador Demóstenes Torres, e do empresariado, como a Construtora Delta, responsável por contratos milionários em todas as esferas de governo. Mas não só isso: escutas telefônicas apontam envolvimento de setores da imprensa, como os jornais impressos de Goiás ‘Diário da Manhã’ e ‘O Estado de Goiás’ e a maior revista semanal do Brasil, a Veja. Esta última, em alguns termos, um relacionamento suspeito até mais grave, se levarmos em conta que ela possui circulação nas bancas de jornal de todo o país.

Por meio do diretor da sucursal de Brasília, Policarpo Júnior, a publicação da editora Abril dava eco as notícias ‘plantadas’, ou seja, inventadas pelos adversários políticos e econômicos do grupo criminoso, como o ex ministro dos esportes, Orlando Silva, absolvido em junho de 2012 das ‘denúncias’ deflagradas por Veja.

Mas, se Cachoeira utilizava as páginas do semanário para atacar seus adversários, o que a revista ganhava com isso? Simples: histórica adversária do Partido dos Trabalhadores, ela via no bicheiro uma oportunidade de fazer sua política paralela, derrubando aliados do governo baseada apenas em declarações e não em provas consistentes. Para isso, lançava mão de dossiês (investigações) feitos por membros do grupo de jogos ilegais, de origem e autenticidade bem duvidosos, para dizer o mínimo. Imprensa também é jogadora na política!

Nestes termos, pode-se esquecer a tal da imparcialidade jornalística, na medida em que há um claro posicionamento ideológico. Contudo, isso não é problema, pois, independente das ideias defendidas, e do veículo em que ela aparece, não há imparcialidade nos meio de comunicação, seja ele grande ou pequeno. Mas outras questões são inevitávies: que parâmetro ético e legal possui uma empresa privada, que utiliza informações de uma quadrilha, para publicar declarações falsas, tão importantes, que derrubam ministros de Estado?

Certo é que as investigações da CPMI estão longe de terminar. E embora a imprensa ainda não tenha assumido seu protagonismo no trabalho dos deputados e senadores, essa parece ser apenas uma questão de tempo, ao se analisar alguns diálogos entre jornalistas e criminosos. Até lá, aguardemos cenas dos próximos capítulos.


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