Hoje, dia 15 de outubro, comemora-se, no Brasil, o Dia do Professor.
A data tem sua origem num decreto do Império, de D. Pedro I, que, no ano de 1827, determinou a criação das primeiras escolas de educação primária em toda vila, cidade ou lugarejo. Na época, elas tinham o nome de “Escolas de Primeiras Letras”.
Cento e oitenta e cinco anos depois, este profissional continua sendo de grande importância para a construção de uma sociedade mais justa. Tanto a educação escolar de uma criança como a profissional dos adultos passam pelas mãos deles, que definem a percepção e o senso crítico que todos devemos desenvolver, se quisermos viver com dignidade e qualidade de vida.
Porém, a situação do professor hoje, enquanto ofício, preocupa.
Uma recente pesquisa realizada pela revista Nova Escola entrevistou mil e quinhentos alunos do ensino médio, e apenas 2% deles responderam que seguiriam a carreira de docente.
Salário baixos e más condições de trabalho ajudam a explicar esse número, além do desprestígio que este trabalhador sofre em relação a outras ocupações.
Devemos fazer, entretanto, uma reflexão sincera sobre o quadro: a quem interessa investir na educação dos cidadãos brasileiros?
Basta abrir as páginas dos jornais e revistas para constatarmos que qualquer jornalista, articulista ou ‘especialista’ critica a qualidade das escolas em nosso país. Soluções para sanar o problema então – algo do tipo que uma varinha mágica resolveriam – é o que não faltam. Mas a mesma mídia que aponta o dedo, também é aquela que tenta anular qualquer iniciativa na área de investimentos no setor, como Pro Uni, o Enem, as Cotas Raciais etc.
Existem problemas e nenhum programa de nenhum governo do mundo é perfeito. Mas casos isolados se transformam em verdadeiras cruzadas nas páginas da imprensa privada, que usa o espaço para fins políticos, alheios ao interesse público.
Valorizar o professor é uma iniciativa importante, sem dúvidas. Mas educação começa em casa e, diferente do que algumas pessoas pensam e defendem, não é dever do Estado ‘criar’ os integrantes da comunidade e sim estabelecer padrões e condições igualitárias de formação técnica, cívica e humana, isso sim.
A criminalidade é outro paradigma que as pessoas gostam de colocar na conta da falta de educação, mas também deve ser contextualizada. Em delitos que atentem contra os Direitos Humanos, como homofobia e racismo, por exemplo, deve-se levar em consideração a parte da sociedade que é homofóbica e racista, e que a escola não representa como protagonista na formação desse ser, apenas de maneira secundária, pois seu ambiente de convívio – familiar, de qualquer classe social, inclusive – é quem define essa personalidade não compatível com a vida em grupo.
Além disso, resumir o problema da educação apenas na figura do professor é tratar a realidade pelo raso, sem discutir profundamente a questão. Que projetos pedagógicos e recursos materiais e humanos as escolas públicas oferecem a comunidade?
Conversando com quem põe a mão na massa encontra-se um panorama meio surreal: professores que chegam a passar seis horas num mesmo grupo de crianças, sem espaço suficiente, nem auxílio audio visual ou instrumentos adequados de alfabetização, interpretação de textos, matémática, história e política etc, um indício de problema estrutural.
Antes de esperar por uma ‘solução’ milagrosa e hipócrita para o sistema de ensino no Brasil, devemos se perguntar o quanto nos engajamos e, de fato, damos importância a essa área essencial. As recentes greves mostraram que os impostos que servem a educação são dados de maneira chorada não apenas pelo governo, mas empresários e lobistas que fazem tráfico de influência no Congresso e no mundo corporativo.
Mas isso apenas valoriza o trabalho de gente que antes de prestar um serviço público, batalha todos os dias pelo ideal de um país mais politizado e humano. Parabéns ao professor, e a luta continua!