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Amigos amigos, paladar à parte

Autor: Diego Frederici 9 de outubro de 2012 0 Comentário

Ah a culinária! Poucas coisas nesse mundo proporcionam tanto prazer quanto um prato de comida quentinho. Da lazanha a feijoada, passando por um bolo de cenoura com cobertura de chocolate, é difícil não se render ao alimento que, antes de encher a barriga, estalam os olhos e dão água na boca.

Às vezes, porém, o ritual de compartilhar o pão pode render situações inusitadas. Lembro que certa vez, há alguns anos, fui convidado para um jantar na casa de uma amiga. A intenção dela era fazer uma pequena reunião, em comemoração ao 20 de julho, Dia Mundial do Amigo. Mesmo achando um pouco brega precisar de pretexto para rever pessoas queridas, fui à reunião, na esperança de não pagar o mico da dupla parabéns/discurso. Vinte de julho também é meu aniversário.

Expectativa que caiu por terra! A dona da residência, e organizadora do jantar, sabia da data, e, tão logo cruzei os portões da casa, fui surpreendido por um coro, composto por um ou outro amigo e alguns meio desconhecidos. Todos com sorriso num rosto corado pelo frio que fazia no dia. Todos devidamente ‘alegres’ e ‘simpáticos’, com seus copos de ‘suco de laranja’ na mão. As surpresas da noite, entretanto, não parariam ali, ao menos para mim.

De tradição nordestina, como muitas pessoas de São Paulo e das cidades de sua região metropolitana, minha amiga, e a maioria dos convidados, esbaldavam-se nos pratos à mesa. Como nasci e cresci numa família de origem do interior do Paraná, a tensão aumentava. Não poderia sair dali sem nem ao menos dar uma disfarçada.

Então comecei pelas iguarias mais ‘tranquilas’. Cuscuz ok. Carne seca na abóbora (uma delícia!) ok. Buchada… Ops! “Esse eu fiz para você, pois sei que adora buchada. O aniversariante precisa comer o prato principal, certo galera?!”, disse minha amiga, com os olhos quase fechados, um sorriso de orelha a orelha, e um bafo de ‘suco de manga’ tenebroso. Um pouco sem jeito, só me restou afirmar: “Claro, adoroooooo buchada!!”

Depois de tomar coragem, dei um trago num ‘suco de abacaxi’ três garfadas na prato e depois outro trago no ‘suco de abacaxi’. Fiquei mais vermelho que um pimentão. E não era de vergonha.

“Eu sabia que tinha acertado na comida. Se não quiser, não precisa comer, viu?” Disse a ‘amiga’, num gesto que combinava ternura e álcool no sangue. Que me restava falar?

“Jamais me esquecerei. Feliz dia do Amigo!”, disse a ela, antes de se jogar nos meu braços.


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