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Mauá tem chance de dizer não ao coronelismo

Autor: Diego Frederici 23 de outubro de 2012 0 Comentário

Dos quase seis mil municípios brasileiros (5568, para ser exato), apenas cinquenta terão segundo turno, no próximo domingo, dia 28 de outubro de 2012.

Mauá, uma cidade com mais de quatrocentos mil habitantes, no ABC Paulista, região metropolitana de São Paulo, é uma delas.

Relativamente nova, com apenas cinquenta e sete anos de emancipação da vizinha Santo André (O ‘A’ do ‘ABC’, também composta por São Bernardo do Campo, o ‘B’, e por fim São Caetano do Sul, a letra ‘C’) a cidade é um importante polo industrial e sindical que, assim como sua vizinhança municipal, teve um papel de destaque na luta pela redemocratização do Brasil, por meio da organização dos trabalhadores, tido como o primeiro e um dos principais movimentos organizados que colocaram o regime civil-militar contra a parede.

Mauá em 1953

No domingo, porém, Mauá terá a frente um momento histórico, no qual surgirá a oportunidade de escolher entre o passado servil, de concentração das riquezas do povo, em favor de algumas famílias tradicionais, e o futuro, mirando o desenvolvimento social e a recuperação de sua autoestima, manchada pelo controle dos coroneis que ‘administraram’ a cidade com punhos de ferro, durante décadas.

Entregue as mãos da ‘dupla dinâmica’ Leonel Damo/José Carlos Grecco – ambos ex prefeitos, sendo o primeiro, conhecido por sua truculência, incluindo ameaças de morte e ‘linchamentos’ a seus adversários; e o outro, quem indicou o vice na chapa de Vanessa Damo, filha de Leonel e candidata a prefeita em 2012 – a população usufruiu de serviços sociais de péssima qualidade.

Na saúde, o hospital Nardini, um dia referência para toda região, foi perdendo o status de excelência até virar motivo de piadas de gosto duvidoso, pela sua ineficiência. Áreas de lazer são insuficientes e concentram-se nas imediações do Centro. O transporte é um verdadeiro caos, onde não raras são as denúncias surreais, de usuários e moradores, como ameaças com armas de fogo pelos motoristas da até então única empresa de transporte coletivo, cujo proprietário é histórico aliado do ‘coronelismo’ patrocinado pelos Damo/Grecco.

A partir de 1996, a história deste lugar mudou, com a entrada de um líder que via no progresso social a única arma para combater a asfixia moral e a inexistência da qualidade de vida nesse município tão próximo da principal metrópole da América Latina, São Paulo. Aqui, sem fazer juízo partidário, e sim político, Oswaldo Dias foi a personalidade que, pela primeira vez, peitou os interesses dos concentradores de riqueza da prefeitura, que açoitavam a população com o (mau) emprego dos recursos públicos, para dizer o mínimo.

Da Mauá em frangalhos que herdou de seu antecessor Grecco – saído do paço municipal maculado por denúncias de ligação com o crime organizado, além de, na era pré internet, adquirir exemplares de jornais nas bancas para os eleitores não terem conhecimento de sua desvantagem nas pleitos que disputava – Dias conseguiu dar fôlego a população ao implementar programas de ajustes orçamentários e participação popular na administração. Os mauaenses reconheceram o trabalho realizado pelo ‘professor’ Oswaldo, o reelegendo em 2000, mandato em que construiu o Teatro Municipal, urbanizou o Centro e a Praça XXII de Novembro, ao construir o ‘calçadão’ para melhorar o trânsito e a convivência das pessoas e etc.

Porém, em 2004, a sorte do município mudaria, fazendo com que seus reflexos fossem sentidos, sobretudo, pela maioria de seus moradores, que é carente, até os dias de hoje, oito anos depois. O candidato a prefeito apoiado por Oswaldo Dias, Márcio Chaves, apesar de ganhar a eleição, com 45% do votos, nunca assumiu, pois sofreu um nebuloso processo do PFL (Atual DEM e antigo ARENA, o partido da ditadura civil-militar), do qual foi acusado e condenado por utilizar a administração em sua campanha eleitoral. Depois de 11 meses de batalha jurídica, a ‘justiça’ definiu que o segundo colocado, Leonel Damo, deveria ser o chefe do paço. Um homem não eleito pelo povo estava a frente da prefeitura e, em pleno ano de 2005, mais de quarenta anos após o Brasil entrar no sombrio período de repressão oficial e institucionalizada, o município da região metropolitana de São Paulo também sofrera um Golpe.

Esse sim, um período desastroso para quem vive aqui. Contratos fraudulentos da saúde à educação, reutilização de material descartável (!) nas ubs’s, mergulho numa dívida de mais de 250 milhões de reais, a cidade imunda – literalmente, com papeis e lixo mesmo nas áreas centrais – parques e praças abandonadas, transporte público mandando e desmandando, inclusive com uma apropriação indevida de um espaço destinado a circulação das pessoas, na rua Rio Branco, para a ampliação do Terminal Rodoviário, fizeram jus a fama que Mauá possui, como o patinho feio da ABC Paulista.

Em 2008 a democracia, que é o poder que emana do povo, deu sua resposta, e elegeu, mais uma vez, Oswaldo Dias, expurgando o candidato da situação, Chiquinho do Zaíra – Damo não se atreveu a concorrer naquele ano.

De lá para cá, travou-se uma batalha para acertar as contas do município, que sofreu com a corrupção e a ineficiência do coronel da vez. Uma importante vitória, contudo, deve ser lembrada e comemorada: a quebra do monopólio, de mais de 30 anos, da única ‘empresa’ que prestava o serviço de transporte municipal, em 2010. Apesar de ainda estar na cidade, a Barão de Mauá não deixará saudades, seja pela humilhante espera dos coletivos, ou o tratamento recebido pelos cidadãos de seus ‘funcionários’.

Por isso, domingo será o dia ‘D’ para esta jovem cidade. Passado e futuro se enfrentarão, colocando a decisão nas mãos dos moradores. De um lado, Donisete Braga, candidato apoiado por Oswaldo Dias, do outro, Vanessa Damo, afilhada política de José Serra, correligionária e defensora dos interesses das famílias ricas de Mauá. Quem vencerá? Difícil dizer. Uma coisa, porém, é certa: para a infelicidade de alguns, o povo não é tão despolitizado assim. Azar dos que lucram com o autoritarismo, a incompetência, o preconceito, a corrupção e a concentração de riquezas sem limites. Quem viver, verá.


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