O temor e a fascinação do caos e da destruição são velhos conhecidos da humanidade – que desde os primórdios de sua existência fabricam guerras – e da cultura pop. Filmes norte-americanos, como Mad Max e o Exterminador do Futuro, propõe um ponto de vista sombrio, e ‘hollywoodiano’, para o futuro da sociedade que conhecemos.
Mas a sanha apocalípta não é diretriz exclusiva do cinema ocidental. O Japão também entra na onda do ‘salve-se quem puder’, com sua vasta produção de animações, conhecidas como anime (lê-se animê). Neon Genesis Evangelion, Guerreiras Mágicas de Rayearth e o próprio Cavaleiros do Zodíaco, onde todos sempre são ameaçados por um ‘deus’ que quer ou inundar o mundo com as águas do mar ou transformar o planeta num cubo de gelo, são apenas alguns exemplos dessa linha de produção cultural.
Akira (Katsuhiro Otomo, TMS Entertainment, 1988) é um deles, mas destaca-se da multidão, não apenas por ser um dos primeiros animes feitos para o cinema a passar na tv aberta brasileira, mas sobretudo pela mensagem filosófica, e a própria qualidade da arte, feita totalmente a mão, tida até hoje, por muita gente, como ‘insuperável’.
A obra tem como cenário a cidade de Neo-Tokyo, construída em cima dos escombros de Tokyo, no Japão, destruída após a III Guerra Mundial. Numa perseguição entre duas gangues de motocicleta, reflexo da sociedade desigual e carente em que vivem, o líder de um dos grupos, Kaneda e seu melhor amigo, Tetsuo, acabam se envolvendo num incidente com agentes do governo: Tetsuo, sem querer, tem contato com uma criança misteriosa, protegida pelas forças militares. A partir daí, o rapaz é levado para instalações de pesquisa científica, onde passa por experiências que despertam um poder inconcebível, capaz até mesmo de destruir o mundo.
O enredo é baseado num manga (lê-se mangá), ou história em quadrinhos, no Japão. E tanto a animação quanto este tiveram Katsuhiro Otomo à frente. Por ser mais extenso, publicado em capítulos, como uma novela mesmo, o manga desenvolve melhor a história, e conta com outros personagens, sendo diferente dos acontecimentos da animação, mas com um final mais ou menos igual.
A obra chama atenção não apenas pela qualidade dos desenhos, que são de tirar o fôlego, mas pela crítica social latente em toda a extensão, como os problemas de corrupção do governo, a crescente militarização da sociedade e as consequências de um mundo injusto, que não dá ao jovem perspectivas, fazendo-o se entregar as drogas, ao crime e etc.
Mesmo com mais de vinte anos, temas bem atuais, não é mesmo?
E é justamente essa atualidade que transforma o anime num clássico da cultura pop. Os estúdios de Hollywood se interessaram por Akira, que já faturou mais de U$$ 500 milhões ao redor do mundo. Infelizmente, o projeto foi colocado na geladeira. Agora resta esperar e torcer para ouvir o ronco da motocicleta de Kaneda, dessa vez, na telona. Enquanto isso, confira um trailer da animação, na telinha mesmo.